Ainda pela crença de que o câncer é uma sentença de morte, a notícia de que alguém na família foi diagnosticada com a doença chega abalando todos os membros. Primeiro surge a pergunta: como é possível? Depois, a dúvida: o que vamos fazer? E, na sequência, uma certeza: vamos lutar para que tudo dê certo, ou seja, para que a pessoa se recupere e toda a história vivenciada em torno do câncer se torne uma vaga lembrança do passado.
O anseio de ver o avô, a avó, o pai, a mãe, o filho, a filha ou outra pessoa do núcleo familiar bem assistido para enfrentar a rotina de consultas, exames e tratamentos faz com que a família, ou o cuidador em específico, permaneça inserido em uma rotina de cuidados intensivos para promover o bem-estar do ente enfermo e, em muitos casos, acabe se esquecendo de algo primordial: cuidar de si mesmo.
Muitas das famílias que estão atreladas aos cuidados de uma pessoa com câncer acreditam ser impossível ter tempo e disposição para pensar em si. Pode parecer até egoísmo deixar a pessoa doente em função do próprio bem-estar. Neste momento é preciso ter claro uma instrução corriqueira dada pelas aeromoças nas viagens de avião: em caso de despressurização, máscaras cairão automaticamente. Puxe uma delas, coloque-a sobre o nariz e a boca ajustando o elástico em volta da cabeça e depois auxilie os outros, caso necessário.
O que as aeromoças orientam é que é necessário cuidar de si, estabilizar-se e estar bem para oferecer cuidado ao outro. Assim também é na vida. À pessoa que não se sente bem falta condições de atender ao próximo. O bem-estar da pessoa com câncer está intimamente ligado ao bem-estar de toda a família ou do cuidador.
Para que a função de cuidar do familiar doente não seja emocionalmente esgotante e nem fisicamente exaustiva, uma sugestão é elaborar a rotina de forma que o cuidador tenha um tempo só para si ou que a família possa se envolver em uma atividade prazerosa, sem deixar de lado a atenção que precisa ser dedicada à pessoa doente.
Uma opção é continuar com algumas das atividades que já integravam o cotidiano, antes do diagnóstico da doença. Elas servem para ‘recarregar as baterias’. O importante é sair da nova rotina que se instaurou em torno da doença para fazer algo que gere momentos de lazer, como realizar passeios curtos e promover encontros com os amigos.
Fazer algo por pura satisfação pessoal também é uma maneira de prevenir os sentimentos que podem surgir da convivência com o câncer (estresse, ansiedade, irritação) e comprometer a qualidade do cuidado oferecido, além da saúde emocional do cuidador.
Muitas vezes, apesar de toda a família e a rede de apoio se envolver nos cuidados que o paciente com câncer precisa, é somente a uma pessoa que se destina a função de cuidador. Para que ninguém se sobrecarregue, é importante dividir a tarefa de cuidar. É preciso contar com a ajuda dos amigos, outros familiares ou profissionais. O trabalho em equipe facilita a rotina e permite que cada um tenha tempo para realizar outros projetos.
O cuidador precisa ter consciência que ter tempo para si é benéfico para ele e para a pessoa de quem está cuidando. E viver esses momentos sem culpa, ciente de que cada um faz o que é possível por quem precisa de apoio. Um bom começo para afastar a culpa é aceitar a doença. Isso permite enfrentar a situação com mais tranquilidade.
Em resumo, as pessoas próximas do paciente com câncer precisam estar bem para poder oferecer auxílio ao outro. E tem de ter em mente de que a vida continua. O que é necessário são adaptações na rotina, e não cessar todas as atividades em que se estava envolvido antes de a doença surgir.