É sempre empolgante quando a Medicina abre novos campos de atuação, especialmente em áreas tão sensíveis quanto a Oncologia. Em 2015, a prestigiada publicação The Economist * destacou o crescente desenvolvimento de mais um “cavaleiro” na luta contra o câncer. Surgiu a imunoterapia que, junto com a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia e a terapia alvo, potencializa as chances de cura contra esta tão preocupante doença.
De certa forma, a evolução do teranóstico (do inglês, theranostic) também vem consolidando-se como um novo campo da Medicina. Inclui-se na Medicina Nuclear / Diagnóstico Molecular, que combina uma terapia específica direcionada contra uma doença com base em testes diagnósticos específicos. Tal termo une duas palavras, terapêutica e diagnóstico. Com o foco chave no cuidado centrado no paciente, o teranóstico possibilita uma transição da medicina convencional para uma abordagem contemporânea da medicina personalizada e de precisão.
O teranóstico envolve a integração de nanociências que unem aplicações diagnósticas e terapêuticas para formar um único agente (chamado radiofármaco ou terapia com radioligante). Isso permite o diagnóstico, a administração de medicamentos e o monitoramento da resposta ao tratamento em um mesmo momento.
Os procedimentos teranósticos utilizam-se de vias biológicas específicas no corpo humano. Obtém-se imagens diagnósticas e também administra-se uma dose terapêutica de radiação ou medicação ao paciente. Como exemplo, através de um alvo molecular específico em um tumor, é possível que um agente terapêutico seja direcionado contra
algum receptor tumoral específico, e não contra todas as células do organismo. Desta forma, modernamente evita-se a tradicional abordagem de tentativa e erro. Assim, oferece-se o tratamento certo, para o paciente certo, no momento certo, com a dose certa, proporcionando uma solução mais direcionada e eficiente.
Esta modalidade de tratamento, na realidade, já existe há mais de 75 anos. Iniciou com o uso do Iodo radioativo (I 131) no tratamento do câncer de tireoide. Ele mostrou-se eficaz e seguro, tornando-se, portanto, uma terapia consagrada.
O desenvolvimento de tais testes diagnósticos e terapêuticos tem por foco individualizar o tratamento para doenças e, se possível, subtipos e perfis genéticos específicos de cada paciente, visando melhorar a eficácia e a segurança, baseadas no tempo de uso, quantidade e tipo de fármaco usado, além de auxiliar na avaliação da própria resposta terapêutica.
Na última década, o tratamento de tumores neuroendócrinos passou a contar com o uso do Gálio (Ga 68 ). Este é marcado com octreotato no diagnóstico através do PET Scan. O uso do Lutécio (Lu 177 ) emite radiação beta contra as células neoplásicas. Ao longo dos últimos anos, o interessante desenvolvimento neste campo tem mostrado um número
crescente de tratamentos teranósticos disponíveis. Na Oncologia (o uso do Ítrio [Y 90 ] é utilizado no câncer de fígado), por exemplo. Terapia com Radium (Ra 223 ) e Lutécio (Lu 177 ) para o câncer de próstata metastático ósseo e/ou resistente a castração já são realidade e estão disponíveis em grandes centros.
A associação do uso de terapias com radioligantes a modalidades de imagem avançadas (como o PET de PSMA) deverão ampliaros horizontes de tratamento das neoplasias urológicas em breve. Pesquisas promissoras com outros radiotraçadores (como o Actinium [Ac 225 ]) aplicados no câncer de próstata devem aprimorar os resultados.