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02.04.2017

Radioterapia ou Prostatectomia para câncer de próstata?

O câncer de próstata é muito comum e quando diagnosticado precocemente tem grande possibilidade de cura. Com muitas frequência ouvimos no consultório perguntas como… “- Doutor, qual o melhor tratamento para o câncer de próstata? As duas principais alternativas para o tratamento do câncer de próstata são: cirurgia (prostatectomia radical) e/ou radioterapia. Mas qual a melhor?

Para responder a esta pergunta deveremos sempre avaliar algumas variáveis que possam influenciar na escolha e nos resultados. Qual a idade do paciente, se a doença é localizada ou disseminada, se a doença é mais agressiva ou branda, tamanho da próstata, obesidade, caraterísticas referente a função erétil e ao padrão urinário do paciente, experiência da equipe que o assiste, vontades e expectativas do paciente, além de outros fatores.

A cirurgia (prostatectomia radical) é mais recomendada no Brasil, EUA e Europa para a maioria dos casos. O procedimento traz resultados mais eficazes (taxa de cura maior) e menor índice de recorrência da doença.

A prostatectomia radical consiste na retirada cirúrgica da glândula prostática e vesículas seminais (reservatório de parte do sêmen) por inteiro. Para doenças de risco intermediário ou alto, além da próstata, retira-se cirurgicamente os gânglios da pelve (ao lado da próstata e bexiga).

A cirurgia pode ser realizada por 3 técnicas diferentes. Pode ser via aberta (corte na parte inferior do abdome com cerca de 8-10 cm), via videolaparoscópica ou assistida por robô. Há diversas especulações com potenciais vantagens de uma técnica em relação a outra. Mas as publicações de grande impacto e com maior número de casos afirmam que as técnicas são equivalentes entre si. Similares em relação a resultados oncológicos (cura do câncer de próstata), resultados funcionais (taxas de continência urinária e disfunção sexual) e recuperação pós-operatória. Os fatores que mais influenciam nos resultados pós-operatórios são experiência da equipe cirúrgica, agressividade do tumor, tamanho da próstata, obesidade, função urinária e erétil prévias.

Já a radioterapia pode ser realizada por 2 técnicas bem distintas, a braquiterapia e a radioterapia externa convencional. A primeira consiste no implante cirúrgico por meio de agulhas de algumas “sementes” de iodo radioativo. Estas sementes ficarão de maneira definitiva dentro da próstata. As sementes emitem radiação ao redor de si, de maneira localizada, permanecendo ativas por cerca de 2-3 meses, quando então perdem a capacidade de radiação. Tem uso mais restrito, mas é uma boa opção terapêutica para casos selecionados. Quando a radioterapia é a opção de tratamento escolhida, na maioria dos casos utiliza-se a radioterapia externa. Essa técnica é realizada em um centro de radioterapia e assistida por médico radioterapeuta. Após a programação anatômica do local da glândula e do tumor, emite-se radiação com sessões diárias por cerca de 4-6 semanas, sem a necessidade de qualquer intervenção cirúrgica.

Ambos os tratamentos (cirúrgico ou radioterápico) apresentam vantagens e desvantagens.

Vantagens da cirurgia (prostatectomia radical)

– maior taxa de cura;

– menor taxa de recorrência da doença;

– análise mais detalhada das características patológicas da próstata, uma vez que a glândula é retirada e analisada detalhadamente pelo médico patologista. Já na radioterapia analisamos apenas os dados da biopsia prostática (que retira apenas uma pequena fração de glândula);

– retira os gânglios (linfonodos ou “ínguas”) localizados na pelve, que fazem parte do tratamento nos casos de câncer de próstata de risco intermediário ou alto risco;

– procedimento de baixo risco com equipes que a realizem de maneira rotineira;

– o seguimento oncológico após a cirurgia é fácil, uma vez que é baseado apenas na dosagem do PSA, que torna-se uma ferramenta valiosa e precisa para diagnosticar qualquer recorrência de maneira precoce;

– a principal vantagem da cirurgia é a possibilidade de tratamento com radioterapia complementar caso haja uma recorrência. O paciente permanece com uma segunda “carta na manga” para obter tratamento curativo. Isto pode ocorrer entre 15-20%. Já quem opta pela radioterapia como primeira forma de tratamento, não tem a cirurgia como uma segunda boa opção terapêutica.

– baixos índices de incontinência urinária quando operados por equipes experientes (que, em média, realizem este procedimento mais de 30 vezes ao ano);

– índices aceitáveis de disfunção erétil.

Vantagens da radioterapia

– não é necessária uma intervenção cirúrgica;

– recuperação física mais rápida

– tem índices um pouco maiores de continência urinária;

– tem índices menores de disfunção erétil nos primeiros meses após o procedimento.

Cabe ressaltar que ambos os tratamentos referem-se aqui como opções curativas de tratamento. Embora a cirurgia cure mais e permita a possibilidade de um segundo tratamento caso a doença recidive, a radioterapia é um tratamento utilizado com relativa frequência.

É importante enfatizar que o câncer de próstata dificilmente deva ser encarado como uma urgência. Portanto, o paciente tem tempo para avaliar a opinião de outros profissionais antes da decisão definitiva por qual tratamento escolher. Após compreensão detalhada das características de sua doença e verificar os principais pontos de vista dos médicos que o assistem, ele deve tomar uma decisão consciente e tranquila.

A presença dos familiares próximos sempre deve ser incentivada durante as consultas afim auxiliar nas decisões. Eles estarão presentes e serão indispensáveis após a decisão e tratamento.